Editoras Mundo Literário

Porque é que a fusão de editoras é má para o mundo literário?

livros sobrepostos uns sobre os outros com a tonalidade preto e branco.

A competição entre empresas está sempre presente em qualquer mercado e nós sabemos disso. No mercado editorial não é diferente e há uma enorme concorrência para se destacar entre os leitores. Novas editoras vão surgindo a cada ano, mas muitas acabam por se fundir com editoras maiores e, apesar de não parecer, a fusão de editoras é má para o mundo literário.

Contexto

Para quem não sabe, o mundo anglo-saxónico é dos maiores mundos literários que existe porque há muitos escritores e leitores. Não é de admirar que haja grandes editoras que toda a gente sabe quem são. Então, o inesperado aconteceu: “A Penguin Random House, a maior editora do mundo, anunciou no ano passado que planejava comprar a rival Simon & Schuster, o que o Departamento de Justiça disse que permitiria “exercer influência indevida” no setor.” (Swissinfo, 2021).

No mundo literário português, está acontecer algo igual: a Penguin Random House e 20|20 Editora anunciam fusão e as duas juntam-se numa nova empresa editorial. A 20|20 Editora contava com 11 chancelas tais como Booksmile, Cavalo de Ferro, Elsinore, Fábula, Fábula Educação, Farol, Influência, Lilliput, Nascente, Topseller e Vogais.

Desde o ano passado, quando fui introduzida ao mundo editorial de forma educacional é que refleti sobre vários assuntos que não me dava conta até então. Um deles foi o facto de que uma fusão de editoras é mau para o mundo literário.

Porque é que é mau a fusão de editoras para o mundo literário?

Não há uma razão maior do que a outra, elas encontram-se todas num grande círculo e por causa de A, acontece B e assim se sucede. Contudo, decidi enumerar algumas das causas pelas quais a fusão de editoras é mau para o mundo literário.

Falta de Aposta em Novos Autores

As editoras pequenas ou médias têm uma maior disponibilidade de apostar em novos autores porque elas próprias também são novas. Normalmente, têm uma mentalidade diferente das empresas que já têm o seu nome marcado. Procuram novas caras para chamar atenção e para inserir no mercado editorial de forma a criarem novos bestsellers. As grandes editoras já têm o grupo de autores definido e é muito difícil entrar nele por não quererem apostar tanto em novas pessoas.

Menos Diversidade

Isto equivale a uma homogeneização do que é publicado: os livros parecerem todos iguais, todos do mesmo género, todos com a mesma capa e forma de escrita. As grandes editoras focam-se na parte comercial do livro, apostam em obras que já sabem que vão vender e ignoram algo que difira porque não irá dar lucro.

Menos Competição

A causa anterior provoca a falta de competição. Para os empresários, claro que é bom que haja menos competição. Para nós – leitores e escritores – é mau porque afeta a competição pelo manuscrito de um autor (o que afeta os royalties do autor). Além disso, diminui o interesse que haja pelo livro por parte das outras editoras porque julgam que não têm como competir. Tendo em conta o que já disse antes, é só óbvio que as editoras mais pequenas perdem porque não têm como competir com as editoras maiores.

Funcionários Despedidos

Já é sabido que há pouca gente a trabalhar de forma efetiva no mundo literário português. A forma de se trabalhar numa editora, muito provavelmente, é por contratos de freelancer em que os serviços de um designer, tradutor, paginador ou editor são pagos por cada trabalho que cada um faça. Com a fusão de editoras, como qualquer fusão de empresas, acaba por haver pessoas a serem despedidas porque há uma duplicação de recursos humanos. Assim, torna-se difícil de entrar numa editora com um contrato direto com a empresa.

Controlo de Preços e Produção

“Com a recente fusão entre a Penguin Random House Portugal e a 2020, o espetro da concentração crescente voltou a pairar sobre o mercado – 80% do volume de negócios está agora na posse de oito editoras, sendo que os dois principais grupos, Leya e Porto Editora, valem mais de 40%.” (Jornal de Notícias, 2021). As grande editoras costumam ter as suas próprias produções e distribuição, o que permite manter o dinheiro na própria empresa e controlar os preços dos livros. Acontece o mesmo com a Sonae em que engloba as marcas como Continente, Sportzone, Worten, Wells, entre outros. Ou como o Jeff Bezos que usa os lucros da Amazon para investir noutras novas marcas e, assim, criar lucro. Uma grande editora consegue produzir um livro mais barato do que uma editora independente, contudo pode colocar o livro com um preço maior para ter mais lucro.

Por estas razões, acho vivamente que uma fusão de grandes editoras é mau para o mundo literário. Aliás, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (da América) concorda também visto que “entrou com uma ação nesta terça-feira (2) para bloquear uma fusão entre duas grandes editoras, afirmando que reduzirá a concorrência e prejudicará autores e consumidores.” (Swissinfo, 2021). Em Portugal, nada foi feito e a fusão entre as editoras foi feito com sucesso.

E tu? O que achas da fusão de editoras? Deixa nos comentários a tua opinião e não te esqueças de partilhar se gostaste do artigo!

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FONTES:

  1. Swissinfo, 2021 https://www.swissinfo.ch/por/eua-atua-para-impedir-a-fusão-de-duas-grandes-editoras/47079132
  2. Sapo 24, 2021 https://24.sapo.pt/vida/artigos/penguin-random-house-e-2020-editora-anunciam-fusao-as-duas-juntam-se-numa-nova-empresa-editorial
  3. Jornal de Notícias, 2021 https://www.jn.pt/artes/pequenas-e-medias-editoras-foram-as-mais-penalizadas-em-2020-14274523.html

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