✒ Palavras Soltas Textos Criativos

Uma carta aberta ao que quase fomos.

Meu quase quase-tudo,

Espero que estejas bem. Espero que consigas descansar no meio de tanto trabalho. Espero que estejas a conseguir dormir porque, pelo menos, nos últimos tempos juntos, estavas a ter dificuldades nisso; espero que agora estejas melhor.

Não sei muito bem por onde começar, ou porque é que estou a fazer isto. A escrita é a minha forma de terapia, como tu sabes tão bem.

É estranho, sabes? Já passou um mês e ainda há momentos que ainda penso “vou enviar-lhe isto” e lembro-me que já não estamos juntos. A rotina dos últimos quase 7 anos mudou subitamente e ainda não me habituei. Enfim. Quem diria que ia tudo terminar assim, de forma tão abstrata, tão bruta. No entanto, não foi assim tão inesperado. Passei os últimos 6 meses da relação a pensar que isto podia acontecer e aconteceu. Parece que aquela frase é verdade: não dá para magoar a 100% uma pessoa que pensa demasiado porque ela já pensou em todos os cenários possíveis, o que acontecer é só uma confirmação de um pressentimento. Sem saber, já me estava a despedir de ti.

Apareceste na minha vida num momento em que não sabia muito bem quem eu era, não sabia o que eu queria, não sabia se podia sonhar ou não. Contigo, aprendi que podia chegar à lua. Contigo ao meu lado, percebi que eu sou alguém importante, que devia ter orgulho em quem sou e devia ser mais espontânea, ao invés de pensar em cada passo que ia dar. Agradeço-te por isso. É irónico porque curaste um coração que não partiste, só para o partir de novo, em maneiras totalmente diferentes.

Ensinaste-me, acima de tudo, que tipo de amor eu mereço e não aceito nada abaixo disso agora. Foi pelos teus erros nesse aspeto que aprendi a valorizar-me porque eu sei que mereço mais. “Não consigo mudar” disseste: pela pessoa certa, muda-se até a direção de onde vem o vento, basta querer. “Mereces melhor do que o que te posso dar” disseste: não, eu mereço melhor de ti, mas tu não queres lutar. Disse-te várias vezes que o amor é apenas um sentimento e que ele oscila com o tempo e não há nada de errado nisso. No entanto, precisas de entender que o amor é uma escolha que se faz todos os dias. É claro que estar numa relação é difícil, ainda por cima uma com pessoas e quilómetros no meio. Mas quando se encontra alguém que é capaz de passar por cima disso, agarra-se com força porque é difícil encontrar alguém assim duas vezes numa vida.

Não te vou fazer perguntas porque sei que não vais responder, isso foi um dos problemas que nos levou a afastar um do outro… ou, aliás, a afastares-te de mim. Não quiseste responder a perguntas sobre o nosso futuro e agora percebo por que: não vias um na nossa relação. Tudo bem, eu compreendo. Juro que compreendo. O que não entendo é porque arrastaste o inevitável por tanto tempo, porque é que me prometeste uma vida contigo e fizeste-me amar-te se não pretendias avançar com nada.

Não gostas de fazer promessas porque tens medo de não conseguir cumprir, mas esqueceste-te que “amo-te” também é uma promessa e o pior é que é uma promessa de um futuro. Por um breve instante eu pensei “vai ficar tudo bem, é só uma fase”. Não era. Não era e foste cobarde por me obrigar a tomar a decisão final. Fizeste-me desistir de nós, mas será que me devia sentir assim tão culpada se foste tu que desististe primeiro?

Deixaste-me com tantas perguntas e tantos “e se?” e não é justo porque apesar da nossa relação ter tido uma especulação devido à distância, nunca te dei menos do que o meu todo. O mesmo não posso dizer de ti porque nunca me deste mais do que o teu mínimo. E aguentei porque te amava, por que realmente via algo incrível em nós: quão iludida posso ser? Aparentemente, bastante.

Ainda assim, não escolhia fazer as coisas diferentes. Não escolhia não te conhecer porque foste uma pessoa importante na minha vida. Amar incondicionalmente significa que se ama alguém mesmo que não seja recíproco. No entanto, acredito que não haja amor incondicional quando se é humano porque não te posso amor ao ponto de perder-me. E é por isso que fazia tudo de novo: deste-me a melhor coisa que me podias dar – eu mesma. Descobri que precisa de te amar e de te deixar para me amar a mim mesma.

Obrigada por teres desistido de nós, fez-me perceber que se eu desistisse de mim para te manter bem, ia-me perder de novo e não me posso dar a esse luxo. Eu amo-te, mas tenho de me amar mais do que aquilo que te amo. E este foi o maior ato de amor-próprio que alguma vez tive e, por isso, agradeço-te por me obrigares a fazê-lo.

Com amor,

O que resta de nós.

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